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Brasil e demais países não revelam metas nacionais para acordo do clima

Compromissos dos governos ajudarão a criar plano contra mudança do clima. Acordo sairá da Conferência de Paris, a COP 21, em dezembro deste ano

07/05/2015

A oito meses da conferência do clima em Paris, a maioria dos países, incluindo o Brasil, ainda não anunciou sua meta de redução de gases-estufa para depois de 2020, embora Estados Unidos e União Europeia, dois grandes poluidores, já tenham atravessado esta etapa-chave.

Na Cúpula das Nações Unidas de Lima, em dezembro passado, todos os países "dispostos a fazer" se comprometeram a apresentar até esta terça-feira (31) suas "contribuições nacionais" para alcançar o objetivo global de limitar o aumento da temperatura do planeta em 2ºC com relação à era pré-industrial.

Segundo maior emissor do mundo, os Estados Unidos esperaram até o último momento para confirmar oficialmente o compromisso assumido em novembro ao lado da China (país mais poluidor do mundo). A Rússia, quinto maior poluente, também deixou para comunicar seu novo objetivo nesta terça-feira. Washington confirmou o compromisso feito em novembro ao lado da China: reduzir de 26% a 28% as emissões entre 2005 e 2025.

A Rússia disse almejar menos 25 a 30% entre 1990 e 2030, com uma proposta pouco clara sobre a contabilização de emissões provenientes de florestas, o que pode mudar a situação sobre os reais novos esforços prometidos por Moscou.

O prazo de 31 de março visava essencialmente aos países mais poluentes e foi um passo para permitir fazer um balanço após a conferência de Lima e antes do encontro de Paris (de 30 de novembro a 11 de dezembro). Um acordo multilateral, em discussão há vários anos, é esperado na capital francesa.

Grandes poluidores sem metas


ONGs, especialistas e alguns países esperavam há alguns meses que os anúncios feitos no fim de março permitissem avaliar o esforço global e ter visibilidade sobre a lacuna a ser preenchida.

No entanto, os principais emissores de gases de efeito estufa - China, Índia, Austrália, Japão, Rússia e Brasil - ainda não divulgaram seus planos.

"Esse atraso no calendário é problemático", avalia Celia Gautier do coletivo de ONGs Réseau Action Climat. "Quanto mais os países se atrasam, menos eles serão incentivados a comparar seus compromissos com os outros e a melhorá-los, especialmente através do apoio internacional", argumenta.

"É um problema de precaução", explica Laurence Tubiana, responsável pelas negociações da França, "seja porque os governos não tenham entrado neste exercício de previsão, seja porque são cautelosos" sobre o que os avanços tecnológicos permitirão nos próximos anos. Mas "nós teremos muitas contribuições nacionais em junho", garantiu.

Passo à frente do México


Anunciar seus objetivos climáticos significa especialmente prever a utilização das diferentes fontes de energia (fóssil, renovável, nuclear) após 2020: um processo complexo, pois deve levar em conta os custos de investimento, a necessidade para garantir o desenvolvimento econômico e a competitividade, evolução das tecnologias.

No início de março, a União Europeia (12% das emissões globais) foi a primeira a enviar formalmente seu plano para a secretaria-geral da Convenção do Clima da ONU. A Noruega assumiu compromissos semelhantes aos da UE. A Suíça visa emitir menos 50% dos gases de efeito estufa até 2030.

Sábado, o México foi o primeiro país emergente a revelar suas metas, um passo bem recebido por Washington e Paris: pico das emissões em 2026, redução de 22% em 2030, passível de ser revisado para cima dependendo do apoio internacional.

Ao todo, 32 dos 195 países membros da Convenção das Nações Unidas sobre o Clima formalizaram seu compromisso. "Se houver progressos nas propostas do governo para o período pós-2020 (...), ainda estamos longe de objetivos compatíveis com a meta dos 2ºC", alertou Bill Hare, em comunicado do centro de pesquisa Climate Analytics.

Segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), as emissões de gases de efeito estufa - que não param de crescer - devem ser reduzidas de 40 a 70% até 2050, na esperança de manter o rumo dos 2°C. Para além deste limiar, os climatologistas preveem riscos graves e irreversíveis e o aceleramento de perturbações climáticas.

Novo prazo até junho
Os anúncios de grandes emissores - China, Índia, Austrália, Japão, Rússia e Brasil - são agora esperados até junho, quando uma nova rodada de negociações oficiais ocorrerão em Bonn, na Alemanha, de 1 a 11 de junho. "Faremos nosso melhor para apresentar nossa contribuição no primeiro semestre", prometeu nesta segunda-feira um porta-voz chinês.

A Austrália, maior poluidor per capita e grande produtor de carvão, informou ter lançado uma consulta nacional sobre sua contribuição e também promete um anúncio para meados de 2015.

Fonte: G1 Natureza